terça-feira, 22 de abril de 2014

'Flávio Dino não procurou o PT", diz dirigente nacional

Berenice Gomes da Silva é membro do Diretório Nacional do PT, atua diretamente com os movimentos sociais, com passagem em Brasília no Ministério do Desenvolvimento Agrário e em, São Paulo, no Instituto de Terras. Atualmente ocupa um dos papeis de maior importância no PT maranhense, coordenando a articulação política do partido.

Diante dos últimos acontecimentos, a dirigente petista resolveu se posicionar sobre a atual situação do cenário político local. Ela criticou a aproximação entre o PCdoB e o PSDB, comentando que isso é um verdadeiro atraso.
Sobre a relação do PT com Flávio Dino, Berenice revela que nunca houve um desejo explicito de Flávio Dino ter o partido em seu palanque na eleição deste ano.

Confira entrevista:



O cenário político no Maranhão é complexo e contraditório. Não podemos analisá-lo somente movido pelos discursos anti-isso ou anti-aquele, apenas personalizando e demonizando os agentes políticos. Colocar como principal elemento político ser contra o grupo Sarney é resumir a leitura política da esquerda, pois isso até os setores conservadores da mídia que antes defendiam o Sarney, o fazem, curiosamente, após o mesmo ter apoiado o ex-presidente Lula e optado por dar sustentação política aos seus dois mandatos e ao da Presidenta Dilma.

E esta aproximação do Flávio Dino com o PSDB, não fere o projeto nacional?

Não é a primeira vez que o PCdoB local confunde a sua análise política e ao invés de adotar a dialética como método, faz uso da forma pragmática ao considerar o projeto local acima do interesse nacional. A questão agora deixa de ser local e tornou-se nacional, à medida em que o candidato do PCdoB trouxe para a cena o apoio do Aécio Neves, adversário do PT e do projeto nacional dos setores progressistas. Mas só para lembrar, este mesmo método, o PCdoB adotou em 1995 quando apoiou e compôs o Governo Roseana, ocasião em que ela era do PFL, portanto da base do governo Fernando Henrique. Quando o grupo Sarney rompe com o PSDB, coincide com o momento em que o PCdoB faz a ruptura com o grupo Sarney e torna-se oposição. Portanto, a máscara de bom moço do Flávio Dino caiu ontem neste dia 15 de abril com o Encontro dele com Aécio Neves e a direção nacional do PSDB. E mais: após esta divulgação ele, se pôs a atacar o PT nas redes sociais tentando justificar uma escolha que ele já vinha construindo. Isto tem uma semelhança com a opção do Jackson Lago (PDT), em 2006.

Como você avalia a justificativa da aliança dos comunistas com o PSDB, já que eles alegam que ela se dá aos moldes do que ocorreu no Acre onde o PT e os tucanos são aliados?

Isso é uma falácia, coisa de quem está envergonhado por se aliar o que há de mais atrasado na política local e nacional. Essa "justificativa" do PCdoB não se sustenta, é uma criação da cabeça do presidente estadual do partido, Márcio Jerry. No Acre houve uma aliança para combater o tráfico e o crime organizado. Havia uma outra conjuntura, inclusive a aliança foi aprovada tanto pela direção nacional do PT, quanto do PSDB.

Então pode-se considerar que a consolidação da aliança PCdoB/PSDB foi uma espécie de resposta de Flávio Dino a Lula pelo ex-presidente ter recebido o ministro Lobão e senador Lobão Filho?

Tudo indica que criaram essa desculpa de que Flávio Dino teria adotado este caminho após ter sido descartado pelo Lula, com a divulgação das fotos do ex-presidente com o ministro Lobão e, senador Lobão Filho, candidato do PMDB ao governo. Na realidade, temos informação de que esta aproximação já estava posta, pois o Flávio Dino nunca explicitou o desejo de querer aliança com o PT. Aliás, após o nosso grupo da CNB te-lo apoiado em 2008, havia a intenção de darmos prosseguimento à aliança para 2010, mas o mesmo se fechou em seu mandato na Câmara Federal, talvez por receio de querermos ocupar espaços no mandato dele. Mas os companheiros da CNB, os históricos, nunca se pautaram em mandatos e muito menos por cargos. Todos conhecem a trajetória do Monteiro, atual presidente do PT Estadual, ele foi candidato, em 2002 para dar palanque ao Lula e cumprir uma missão, em um momento em que pouca gente tinha coragem de entrar em uma disputa com candidatura própria imprensada por duas candidaturas de palanques fortes (Roseana e Jackson?).

E os petistas que já aderiram ao Flávio Dino, como ficam?


São companheiros valorosos, mas infelizmente, muitos deles já estão fora do PT, então não faz diferença apoiar a Dilma ou não. Há outros que têm a sua importância, como o companheiro Manoel da Conceição, um dos fundadores do PT e outros como Augusto Lobato, atual Vice-presidente do Partido no Maranhão. Com certeza muitos deixarão o PT em massa assim que terminar a eleição, seja qual resultado for. O comportamento é o mesmo que tiveram com o Jackson em 2006: pouco interessa o projeto nacional, ficam presos a um discurso de oposição ao Sarney, embora os que eles escolhem sejam caminhos da política conservadora. No governo Jackson, por exemplo, era o PSDB quem dava a linha e eu acompanhei quando houve aquela greve de professores da rede estadual que durou mais de 90 dias por falta de um mínimo de diálogo. Enquanto a Roseana, que eles alegam ser somente o atraso, aprovou o Estatuto do Magistério, paga os salários acima do piso nacional e aprovou também o Plano de Cargos e Salários dos Servidores do Estado. Mas há uma contradição e complexidade na política maranhense que não se pode concluir somente com os discursos ANTI-SARNEY como pregam alguns companheiro nossos. Veja que este mesmo grupo do PT que hoje aderiu ao Flávio Dino e ao projeto tucano foi o mesmo que o rejeitou em 2008 quando a CNB defendeu a sua candidatura à Prefeitura de São Luís com a tese de não isolamento político do PT. São os mesmos. A nossa diferença é que eles aderiram ao projeto do Flávio Dino, seja com que for, não interessa o palanque da Dilma e do projeto nacional nós não abrimos mão, ainda mais agora que estamos em um cenário em que a Dilma precisará mais de nós. E na hora da guerra é que conhecemos quem são os aliados e quem são os inimigos. Para o PT não existe eleição fácil, nem adversário preferencial. E nós temos resoluções claras sobre a nossas estratégia e a política de alianças que não cabem o PSDB. O candidato do PCdoB já fez a escolha dele pelo palanque que cabe Aécio Neves e Eduardo Campos e tanto o candidato a senador dele, quando boa parte dos pré-candidatos a Deputado Federal são contra a Dilma e o PT. Muitos deles se dizem de esquerda, mas na prática estão referendando uma aliança conservadora vestida de oposição progressista. E mais: até agora, há poucos sinais de debate programático, há somente um discurso pautado no ódio e no adesismo como se a eleição estivesse dada e sabemos que não existe eleição ganha.

O PT vai exigir a vaga de vice para repetir a aliança com local com o PMDB?

O PT quer a vaga na chapa majoritária. A governadora Roseana, assim como os principais dirigentes do PMDB do Maranhão já declararam que a vaga de vice está garantida do PT. Mas eu defendo que devemos pautar o senado também com indicação de nomes mais ligados aos setores progressistas. Também reafirmo a posição do conjunto do PT, que entende que devemos concentrar forças para garantir eleição de deputado estados estaduais e federais. Não que o espaço da vice não seja importante, mas por entendermos que o Partido precisa recuperar seu protagonismo, tanto no parlamento estadual como na Câmara Federal e compor, inclusive, a base de apoio da Presidenta Dilma. E o PT têm um bom time de candidatos e candidatas das diferentes correntes, ressaltando que temos novas lideranças que disputam e com chances reais de vencer. Fazemos questão deixar isso claro para o PMDB. Por fim, Sabemos que o PT do Maranhão deve construir caminhos próprios, retomar o projeto de desenvolvimento, em aliança com os movimentos sociais e setores progressistas da sociedade, buscar a unidade interna, pois temos compromisso com o projeto de desenvolvimento que está em curso no Brasil. E o nosso maior desafio será manter os votos da Dilma aqui no Maranhão, pois representa o reconhecimento do povo aos benefícios feitos pelo Brasil e pelo Maranhão.

São muitos os desafios do PT no Maranhão?

Certamente. O principal deles é trabalharmos a nossa própria imagem que é muito associada às disputas internas e reconstruímos a nossa identidade política, de um Partido de esquerda que se renova, que enfrenta as contradições com a clareza de que as alianças são conjunturais. O nosso maior desafio é reiventar a política, diferentemente daqueles que negam a política, pois negar a política é negar a própria democracia. Reiventar a política significa refletir também sobre a formação de novas lideranças não apenas no PT, mas cabe ao movimento social também. Às vezes, temos a impressão de que em muitas organizações sãos as mesmas pessoas há mais de 20 anos quando eu era estudante ainda. E a crítica centra-se no combate à oligarquia. Também faz parte do nosso desafio, apostar na juventude, na capacidade das mulheres, no desenvolvimento do Estado, a partir dos municípios. São desafios que implicam em repensarmos o nosso papel.


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