sábado, 19 de abril de 2014

“Espero que África se converta na locomotiva da UE”

A quarta cúpula União Européia - África reuniu 40 chefes de Estado e de Governo africanos juntamente com os homólogos europeus, no início de abril, em Bruxelas. Na agenda, assuntos como a crise na República Centro Africana ou a prosperidade no continente.
A União Européia, com mais de metade do total dos investimentos, continua a ser uma base para apoiar este desenvolvimento. Os 28 países comprometeram-se em financiar com 800 milhões de euros um plano para a paz e a estabilidade, colocado em marcha pela União Africana, cujo Presidente é atualmente o chefe de Estado da Mauritânia. Mohamed Ould Abdel Aziz concedeu para o  Euronews.

François Chignac, Euronews: Nos próximos anos avizinham-se taxas de crescimento que são mais positivas no continente africano. A média global no continente está em 5%. Neste contexto, no século XXI, é preciso por em marcha novas relações com a União Européia?

Mohamed Ould Abdel Aziz: Presidente da Mauritânia: As relações devem continuar, mas devemos melhorá-las e colocá-las num contexto em que ambas as parte saiam vencedoras. Julgo que é útil para os dois continentes. Acredito que continuamos precisando um do outro. Somos continentes complementares.
Euronews: A União Européia e o resto do mundo compreenderam que precisam serem tomadas verdadeiramente decisões de emergência para a África, uma emergência econômica?
Mohamed Ould Abdel Aziz : Acredito que sim, estão prestes a compreendê-lo porque é visível. Julgo que uma taxa de crescimento com uma média de 5% é visível. Devemos acompanhar, um pouco, a evolução deste mundo. E estamos prestes a fazê-lo. Pode até ser lentamente, mas fazemos de certeza.
Euronews: É preciso verificar verdadeiramente aos fatos.
Mohamed Ould Abdel Aziz: Durante esta década, registraram-se muitos problemas, na Europa na África. Problemas de instabilidade, de insegurança, problemas de crises econômicas, de calamidades naturais, o que por vezes ou com bastante frequência, não deixaram aos dirigentes escolha para colocar em prática as decisões tomadas. De toda a forma, a vontade está lá.
Euronews: A questão Centro Africana é muito delicada. Julgamos que a União Européia deve aumentar o número de tropas nesse continente ou achamos que a União Africana e os próprios africanos devem assegurar e restabelecer a ordem nos seus países. O que deve ser feito?
Mohamed Ould Abdel Aziz: Os africanos devem assumir esta missão. É verdade que é nossa. A África está prestes a preparar-se para colocar forças especiais em ação. Alguns países voluntariaram-se.
Euronews: Que países?
Mohamed Ould Abdel Aziz: Uma dezena de países.
Euronews: A segurança é, verdadeiramente, uma das questões mais importantes que tem a tratar, enquanto Presidente da União Africana, e nas relações com a União Européia?.
Mohamed Ould Abdel Aziz: Julgo que não podemos falar de desenvolvimento sem falar de segurança. Não podemos investir numa zona onde existe insegurança. É verdade que, especificamente na nossa zona, o Sahel, conhecemos muitos problemas de insegurança. Não é uma coisa recente, verifica-se praticamente há mais de uma década. Esta insegurança deve-se ao fato de que há uma presença massiva de terroristas que se desenvolveram na região e que continuam a mover-se impunemente. O terrorismo não conhece fronteiras.
Euronews: Na África, a cada ano, chegam ao mercado de trabalho 11 milhões de jovens. Não encontram emprego e frequentemente este problema radicaliza-se e empurra esse jovens para uma forma de extremismo, isso é indetificável?
Mohamed Ould Abdel Aziz: Os ingredientes estão todos lá, efetivamente, para empurrar os jovens para o extremismo e o pessimismo. É isso.
Euronews: Durante o seu mandato à frente da presidência da União Africana o senhor pensa em insistir sobre estas questões?
Mohamed Ould Abdel Aziz: Já insisti neste ponto. O melhor meio para evitar que a juventude caia no terrorismo é evitar que seja continuamente excluída do desenvolvimento da África. É preciso qualificar os jovens, por isso é preciso que o sistema educativo possa responder a estas necessidades. E a África tem muitas possibilidades. Exportamos, por exemplo, muitas matérias-primas, que transformadas (industrializadas) na África, nos permitirão criar empregos, desenvolver, ganhar mais e inserir estes jovens.
Euronews: A União Européia pediu muitas vezes aos países africanos, aos líderes africanos, para assumir e assegurar uma boa governaça?
Mohamed Ould Abdel Aziz: Julgo que não cabe à União Européia se oferecer à África para assegurar uma boa governaça. Os africanos estão conscientes disso. Estão conscientes que um país não pode desenvolver-se sem democracia e sem uma boa governaçã. Também sem o respeito e a integração de todos. Não podemos desenvolver um país enquanto existirem excluídos. Julgo que não compete à União Européia ditar-nos, julgo que é uma escolha que nós devemos fazer.
Euronews: Em matéria de governaça, certas pessoas questionaram a sua ascensão ao poder. O que tem a dizer sobre isso?
Mohamed Ould Abdel Aziz: Havia dez candidatos e a Mauritânia só podia eleger um. Por isso os nove candidatos que não tiveram oportunidade sentiram-se frustrados e disseram que as eleições não decorreram de forma transparente. Mas é sempre assim. Não estão satisfeitos, mas estão aguardando a sua vez – as próximas eleições em junho – cabe-lhes apresentarem-se ao escrutínio que será transparente como nas eleições passadas.
Euronews: Então está otimista face às eleições do próximo mês de junho no país?
Mohamed Ould Abdel Aziz: Estou otimista pelo meu país. No meu país, a democracia está a ancorar-se no espírito das pessoas e da nação.
Euronews: Ouvimos por parte da União Africana, antes do senhor assumir o cargo na presidência, mas também por parte de alguns países africanos, críticas face ao Tribunal Penal Internacional.
Mohamed Ould Abdel Aziz: É uma percepção que os africanos têm porque as pessoas na barra dos tribunais são, grande parte, africanos. É isso que leva os africanos a pensar que se trata de um tribunal especializado apenas no julgamento de africanos. Estamos prestes a debater este problema. É desejável que, como em relação à segurança, os africanos se possam encarregar das coisas eles mesmos.
Euronews: O senhor defende, então, um Tribunal Penal Africano?.
Mohamed Ould Abdel Aziz: Defendo um Tribunal. Não vejo porque enviaremos pessoas para serem julgadas no exterior. Podemos julgá-los, podemos prender, é o mínimo. Temos magistrados muito
Euronews: Veremos um Tribunal Penal Africano?
Mohamed Ould Abdel Aziz: É esse é o meu maior desejo.
Euronews: É um desejo partilhado por outros países da União Africana?
Mohamed Ould Abdel Aziz: Efetivamente.
Euronews: Acredita que África se tornou uma locomotiva da União Européia ou que se poderá vir a tornar?
Mohamed Ould Abdel Aziz: Acredito e desejo isso mesmo. Temos os meios e a ambição. Julgo que é principalmente a ambição que conta.
Euronews: Se tivesse de resumir as suas esperanças sobre o continente africano para os próximos anos, o que diria?
Mohamed Ould Abdel Aziz: Para mim, o futuro de África será próspero, estável, seguro. Com uma África unida.
Euronews: E veremos isso?
Mohamed Ould Abdel Aziz: Uma África que acompanha o desenvolvimento do mundo na arena internacional, tendo também um papel político e de segurança a jogar. com euronews

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