O escritor maranhense José Louzeiro, autor de sucessos como Pixote - A
Lei do Mais Fraco e Aracelli, meu amor, se dedica a escrever um livro.
Bruna Castelo
Branco
Editora do Alternativo
Editora do Alternativo
É em um apartamento localizado em um prédio antigo no Centro do Rio de
Janeiro, perto da Igreja do São Francisco, entre o badalar dos sinos e a
agitação natural de uma grande cidade, que o escritor e jornalista maranhense
José Louzeiro, 81 anos, dedica parte do seu tempo a uma nova missão literária:
escrever o seu livro de memórias.
A obra ainda não tem previsão de lançamento e é feita sem pressa, pois o
escritor, autor de mais de 50 livros - com destaque para as obras importantes
como Pixote: A Lei do Mais Fraco, Aracelli, meu amor e a biografia Cantando
para não enlouquecer, de Elza Soares -, admite ser um exercício complicado o
ato de escrever suas memórias. "É difícil falar de mim. Acho que vou
escrever no livro sobre o que eu gostaria de fazer e não fiz. Estou escrevendo
sem pressa", brinca.
No apartamento em que mora e onde escreve suas lembranças, vários
elementos trazem referências cinematográficas e literárias aos visitantes e
ajudam a contar a trajetória do escritor. Quadros com cartazes dos filmes Lúcio
Flávio - o passageiro da agonia, O Homem da Capa Preta, Pixote-A Lei do Mais Fraco
(Louzeiro assina o roteiro das obras), retratos do autor pintados por vários
artistas plásticos, incluindo o amigo maranhense Jesus Santos, além de diversos
livros de conterrâneos (pude observar obras de Luis Augusto Cassas e Bruno
Azevêdo), além de fotografias em um mural onde está afixada também uma cópia de
um texto dele publicado no jornal O Estado. "O caderno [de cultura] de
vocês está muito bonito", diz, em referência ao caderno Alternativo.
Visita - Nesse cenário com referências tão particulares, o escritor,
pioneiro do romance-reportagem no Brasil, recebeu O Estado, às 10h30 de uma
quinta-feira, não para uma entrevista, mas para um bate-papo, como quem recebe
um amigo.
Logo na portaria do prédio, à espera da equipe estava Ednalva Tavares,
agente literária do mestre e companheira dele nessa e em outras vidas.
Bem-humorado, ele nos recebe com um: "Desculpa não receber você de
pé", em referência à perda do pé esquerdo e da perna direita em
decorrência de complicações do diabetes.
Como esperado, a conversa não é marcada por formalidades. Sobre a
biografia, Louzeiro adiantou pouca coisa, mas contou histórias da carreira como
jornalista tanto no Maranhão quanto no Rio de Janeiro, relembrando alguns
personagens importantes, entre eles, o jornalista Nonnato Masson. "Ele me
ajudou muito quando eu comecei a minha carreira no jornalismo policial",
recorda.
Além do jornalismo e as perseguições que sofreu na época da Ditadura
Militar e que o fez trocar São Luís pelo Rio de Janeiro, outros assuntos foram
surgindo com a naturalidade de uma conversa descontraída regada a xícaras de
café. "Eu adoro café, se deixar eu tomo o dia todo", comenta, para
depois voltar a falar sobre as perseguições que sofreu no Governo de Vitorino
Freire. “Desse aí eu faço questão de falar. No meu livro eu deito e rolo”,
adianta.
Histórias dos pais, infância, carreira como roteirista cinematográfico e
a repercussão do filme Lúcio Flávio - o passageiro da agonia, lançado em 1976,
com roteiro dele, direção de Hector Babenco e estrelado pelo então jovem ator
Reginaldo Faria - que se despia da imagem de galã para interpretar o ladrão de
banco, famoso nos anos 1970 e que foi perseguido pelo esquadrão da morte da
Polícia - são alguns dos assuntos do livro. "Foi uma fila para assistir à
estreia do filme. Na época fui muito criticado, me acusaram de tratar o Lúcio
Flávio como herói e não dar espaço para quem o prendeu. O Lúcio Flávio era um
personagem muito mais interessante", conta.
Sobre a produção do cinema no Brasil atual, o escritor e roteirista tem
a mesma opinião de Hector Babenco, parceiro dele tanto em Lúcio Flávio como em
Pixote. Para eles, a produção de cinema esbarra tanto na falta de patrocínio
quanto na ausência de salas para exibição. "A gente faz um filme hoje e
ele não vai passar nas salas comerciais. São escassos os bons cinemas",
avalia.
Ainda sobre cinema, demonstra curiosidade sobre as novas produções no
segmento desenvolvidas no Maranhão. Em especial, gostaria de assistir ao filme
O Exercício do Caos, lançado ano passado pelo cineasta Frederico Machado e
planeja desenvolver um curso de roteiro em São Luís, um projeto antigo, mas que
ainda não aconteceu por falta de parceiros.
E como toda boa conversa passa rápido, com o badalar do sino da Igreja
anunciando o meio-dia, nos despedimos do Mestre, deixando-o relembrar suas
memórias e torcendo para que esse livro, reunindo tão boas histórias, seja logo
lançado.
Mais
No ano passado, foram relançados pela Editora Prumo dois livros do
autor. O primeiro foi Aracelli, meu amor, lançado em 1976 e que relata de forma
romanceada a morte da menina Aracelli Cabrera Crespo, assassinada por jovens da
classe média de Vitória (ES), e o segundo foi Os Amores da Pantera, lançado
originalmente em 1982, que narra o assassinato de uma bela socialite brasileira
e também mostra um pouco do comportamento da sociedade brasileira nos anos
1970. Fonte: blog Maranhão Maravilha
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