O Apito do Passado
O Mearim derrama na distância uma água que em sonhos
nos invade, como fio invisível que se lance a separar em duas a cidade.
E essa água vem banhar sem que se canse a vida
inteira que no rio nade, porquanto água de amor que lava infância lava também
velhice e mocidade.
Mearim — rio velho e rio novo, alegria e aflição de
um mesmo povo — um mar se afoga nos mistérios teus.
Mas preservas em ti, para Pedreiras, vibrando no ar,
o apito das primeiras lanchas que nos deixaram seu adeus.
Os homens
rasos
Os homens é que estão
traindo a vida,
traindo as águas que
não voltam mais
à sua velha paz, hoje
perdida
na própria refração dos
seus cristais.
Do equilíbrio do mundo
se duvida com as ambições pesando desiguais
sobre uma ecologia ressentida dentro dos seus telúricos sinais.
Agora são mais rasas as
vertentes, rasos os homens e as ações urgentes
com que buscam mover águas e terras.
E tu, velho, ó velho
rio, entre homens ficas, vendo-os enodoar-te as águas ricas
e as cortinas de sonhos que descerras.
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